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Brasil Bebês de silicone

Enquanto brincam de boneca, o país vai ladeira abaixo

O escândalo do INSS não rendeu o mesmo espaço ou indignação nas manchetes

20/05/2025 12h58
Por: Redação Fonte: Adilson Baptista
Enquanto brincam de boneca, o país vai ladeira abaixo

*Adilson Baptista

Em um país assolado por crises recorrentes — econômicas, políticas, institucionais — causa perplexidade perceber o tempo e o espaço que se dedicam, na mídia e nas redes, à febre dos chamados bebês reborn. Bonecas de silicone que imitam com inquietante perfeição recém-nascidos humanos, ao ponto de serem tratadas como filhos por quem as adquire. Passeios no carrinho, fraldas trocadas, roupinhas compradas sob medida. Se não soubéssemos do que se trata, pareceria um roteiro de ficção. Mas é real. E mais do que isso: é sintomático.

A pergunta que não cala é: o que isso revela de nós como sociedade?

Seria uma questão de carência afetiva coletiva, um sintoma da solidão crônica que assola indivíduos em tempos hiperconectados? Ou estamos diante de mais uma daquelas ondas efêmeras, que surgem, viralizam, vendem milhões e desaparecem deixando apenas o rastro de vazio e alienação? Seja qual for a resposta, o fenômeno merece análise — mas não a comoção exagerada que tem recebido.

A romantização da “maternidade de boneca” desperta preocupações legítimas. Pessoas em plena capacidade adulta, muitas com poder aquisitivo considerável, trocando a experiência complexa, desafiadora e verdadeira de serem pais e mães por uma simulação plástica, previsível e asséptica, parece mais um reflexo de uma sociedade cada vez mais infantilizada do que uma excentricidade inocente. E mais grave: essa infantilização é tratada como entretenimento, enquanto questões urgentes permanecem eclipsadas.

O escândalo do INSS, recentemente deflagrado, envolvendo fraudes e prejuízos bilionários aos cofres públicos, por exemplo, parece não ter rendido o mesmo espaço ou indignação nas manchetes. Nas timelines, nas colunas de opinião, nos programas de TV, o reborn reina absoluto, como se uma boneca fosse mais interessante — ou menos incômoda — que a corrupção sistêmica.

Há também um ponto incômodo demais para ser ignorado: será que essa “tendência” não foi, de alguma forma, impulsionada por algoritmos, influenciadores pagos ou interesses escusos, justamente para tirar o foco do que realmente importa? A história mostra que cortinas de fumaça são artifícios recorrentes em momentos de turbulência política. Enquanto o público se distrai com o espetáculo, decisões cruciais são tomadas nos bastidores.

Enquanto as atenções estão voltadas para bonecas de borracha, o país enfrenta sérias ameaças à sua estabilidade fiscal, desafios diplomáticos relevantes, e um cenário de insegurança jurídica que compromete investimentos e empregos. A realidade não é fofinha, nem fofa. Mas é urgente.

Não se trata de julgar quem encontra consolo em objetos inanimados. Cada um tenta lidar com suas dores como pode. Mas quando jornais, blogs e influenciadores decidem dedicar tempo e credibilidade a isso, em detrimento do debate sobre políticas públicas, educação, saúde, ou transparência governamental, a responsabilidade ultrapassa o indivíduo e atinge o coletivo.

É preciso retomar a lucidez.

O Brasil — e o mundo — atravessa um tempo que exige vigilância, maturidade e coragem. Não podemos nos dar ao luxo de brincar de casinha enquanto tudo ao redor ameaça desmoronar. A sociedade precisa urgentemente deixar as bonecas de lado e voltar a tratar com seriedade dos temas reais que definem o rumo da nossa história.

Porque se continuarmos distraídos com silicone e laços cor-de-rosa, talvez, quando despertarmos, não reste muito a ser salvo.

*Jornalista, diretor do Jornal de Bonfim, analista de Marketing, MBA Gestão e Marketing.

1 comentário
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Rita LongoHá 4 semanas Bonfim PaulistaEi sei o que é cortina de fumaça,onde começou a corrupção do INSS. Para os adeptos do reborn temos o Caps. Ladeira abaixo(metáfora)para aqueles que não enxergam a realidade e se deixam levar por figuras de linguagem.
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