Em um campus repleto de histórias, algumas trajetórias se destacam não apenas pelo tempo dedicado, mas pelo impacto e legado deixados. Cristina Bernardi Lima é um exemplo vivo disso. Com 40 anos de trabalho na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, sua jornada não se resume a uma carreira, mas a uma vida inteira entre corredores, salas de aula e relações que moldaram gerações de estudantes.
Nesta entrevista conduzida por Aloma Bueno, Cristina compartilha memórias afetivas, desafios superados e momentos marcantes de sua trajetória. Desde as primeiras visitas à USP na infância, até sua atuação em cargos de liderança, sua história reflete o compromisso e a paixão por um ambiente que se tornou sua segunda casa.
Vamos conhecer mais sobre essa caminhada inspiradora e entender como o trabalho de Cristina ajudou a construir a história da universidade.
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Aloma Bueno - Cris, você completa 40 anos de trabalho na USP Ribeirão Preto. Pode nos contar um pouco sobre a sua trajetória, como você entrou na USP e quais foram as suas primeiras experiências por aqui?
Cristina Bernardi Lima - Na verdade, eu costumo marcar esses 40 anos a partir do momento em que fui contratada como funcionária, mas a minha história com a USP começou muito antes. Desde pequena já tinha uma memória afetiva com o campus. Meu tio Orlando trabalhava na Faculdade de Medicina, era casado com minha Tia Nininha, e eles moravam no campus,o que me permitia visitar o lugar com frequência. Lembro-me com carinho do lago – que naquela época era mais simples, com uma parte de areia e até um balanço –, que sempre me encantou e até hoje me faz refletir sobre como é maravilhoso trabalhar em um ambiente tão especial.
Aloma - Além dessa relação afetiva, sua família teve uma forte ligação com a USP. Como essa influência familiar se manifestou ao longo do tempo?
Cristina - Exatamente! Depois dessas primeiras lembranças, a conexão com a USP se aprofundou. Meu tio Sidney e minha tia Zezé vieram trabalhar aqui, e mais tarde, meu pai e meu tio Toninho, o Tu, montaram um carrinho de lanche na Faculdade de Filosofia do Campus – onde todos trabalhavam. Minha mãe também passou a colaborar, assim como meu irmão (que chegou a trabalhar na cantina ainda muito jovem) e minha irmã, que ingressou na Seção de Pessoal do campus por meio de um processo seletivo. Em 1984, foi a minha vez: prestei um processo seletivo para a Faculdade de Filosofia e passei a fazer parte dessa grande família.
Aloma - Conta um pouco sobre os seus primeiros anos na USP, especialmente na seção de alunos, e como essa experiência moldou sua relação com os estudantes.
Cristina - Comecei trabalhando na chamada 'seção de alunos', quando tinha apenas 18 anos. Naquela época, éramos apenas três funcionários – eu, a Maria Helena e o Maurício – e tudo era feito de forma muito pessoal: cada matrícula era datilografada, cada aluno era atendido pelo nome. Esse contato direto me conquistou e despertou uma paixão que carrego até hoje pelos estudantes. Fiz muitos amigos – entre alunos, professores e colegas – e essa proximidade sempre foi algo marcante na minha carreira.
Aloma - Você chegou a assumir cargos de liderança. Como foi o seu percurso até se tornar chefe da seção e quem foi a sua primeira chefe?
Cristina - Logo após ingressar, comecei a substituir a minha chefe durante as férias e, quando ela se aposentou, fui efetivamente chamada para assumir a chefia da sessão. Eu tinha apenas 21 anos na época. Minha primeira chefe foi a Maria Helena de Oliveira, uma pessoa extremamente correta, com quem aprendi muito. Apesar de haver certa preocupação por eu ser tão próxima dos alunos, a confiança depositada em mim fez com que eu encarasse esse desafio com muita determinação.
Aloma - Você chegou a lidar com 700 alunos em três cursos. Como era a rotina de trabalho e o que fazia para enfrentar tantos desafios?
Cristina - Desde pequena, trabalhar fazia parte da minha vida – lembro de ajudar meu pai no restaurante e na sorveteria, lavando pratos, servindo mesas, etc. Essa rotina me preparou para os momentos de alta demanda aqui na USP. Mesmo com a carga enorme na graduação, eu sempre fazia o que podia para atender a todos, contando inclusive com o apoio de uma estagiária que ajudou bastante. Essa vivência me ensinou a lidar com a pressão e a importância do trabalho em equipe.
Aloma - Você mencionou que, ao longo da carreira, várias pessoas importantes contribuíram para o seu crescimento, como a Dona Wanda e a Lúcia. Poderia falar um pouco sobre essas experiências e as amizades que se formaram?
Cristina - Com certeza. A Dona Wanda, que ocupava o cargo de assistente acadêmica – o mesmo cargo que eu tenho hoje –, me deu a chance de assumir responsabilidades maiores, ao me indicar para a chefia da seção. Quando ela se aposentou, a Lúcia, que era amiga da minha tia, assumiu a assistência e se tornou uma das minhas melhores amigas e mentora. Foi ela quem me indicou para novas oportunidades, ajudando-me a criar um ambiente de trabalho colaborativo e de constante aprendizado.
Aloma - Você chegou à FEA com 25 anos, mas já atuava na seção de alunos desde os 18. Como foi essa transição e o acúmulo de experiências ao longo dos anos?
Cristina - É verdade, comecei bem jovem, aos 18 anos, na seção de alunos, mas como já estava atuando na chefia da seção, fui convidada para substituir a assistente acadêmica, o que certamente me permitiu acumular experiência e conhecer um pouco mais o funcionamento da instituição, o que foi essencial para os desafios que viriam pela frente, quando eu fui transferida para a FEA.
Aloma - Em determinado momento, foram criados os cursos noturnos em Ribeirão Preto, como economia, administração e contabilidade. Como foi o processo seletivo e o desafio de concorrer a uma vaga para o nível superior?
Cristina - Houve uma mobilização política para a criação dos cursos noturnos em Ribeirão Preto – uma resposta a uma legislação que determinava, por exemplo, que um terço das vagas dos cursos fossem oferecidas no período noturno. Esses cursos vieram como extensão dos cursos da FEA de São Paulo, com 120 vagas distribuídas igualmente entre os cursos. Para concorrer à vaga de nível superior, participei de um processo seletivo que consistiu em uma prova escrita e uma entrevista. Curiosamente, fiquei em segundo lugar. Lembro-me de ter contado para o meu pai, que brincou dizendo: 'segundo lugar e lanterna é a mesma coisa', numa lógica competitiva muito ligada ao futebol. No fim das contas, a pessoa que ficou em primeiro era uma funcionária mais antiga, mas ela acabou não querendo assumir a posição por ter que trabalhar à noite. E então, fui chamada para ocupar o cargo – tudo aconteceu muito rápido.
Aloma - Após essa aprovação, você passou a ajudar na implantação de uma nova escola, com um prédio que tinha sido a antiga biblioteca. Como foi essa experiência de transformar um espaço inóspito em um ambiente adequado para as aulas?
Cristina - Foi um período intenso. Tínhamos um prédio central que pertencia ao campus, mas que estava abandonado e cheio de mobiliário antigo. Tivemos o apoio do prefeito do Campus, professor Osmar Sinelli, do professor Marcos Eugênio da Silva – que coordenava a implantação dos cursos – e, principalmente, de uma funcionária exemplar, Telma Regina Rodrigues. Ela mobilizou a equipe de manutenção do campus para arrumar o espaço rapidamente, para que tudo estivesse pronto para o início das aulas. Foi um trabalho quase milagroso, com muita correria e responsabilidade.
Aloma - Os cursos que foram implantados não passaram pelo vestibular tradicional, mas sim por um processo específico da Fuvest para vagas em Ribeirão, Zootecnia e Engenharia de Alimentos em Pirassununga, entre outros. Como foi esse vestibular atípico e qual foi a repercussão?
Cristina - O vestibular foi realmente atípico. Como os cursos em Ribeirão ainda não faziam parte do vestibular tradicional, a Fuvest organizou um processo específico para essas vagas – que atraiu uma quantidade enorme de candidatos. Chegamos a ter uma relação de cerca de 25 candidatos para cada vaga, e, dessa seleção, os 120 primeiros alunos foram escolhidos. Foi um momento muito agitado e decisivo para a consolidação da nossa unidade.
Aloma - Os primeiros anos de trabalho foram marcados por muitos desafios, especialmente por sermos uma unidade dependente da FEA de São Paulo, sem autonomia plena. Quais foram os principais obstáculos e como vocês conseguiram se emancipar?
Cristina - Realmente, nos primeiros anos enfrentamos muitas dificuldades. Nas duas primeiras semanas eu trabalhei sozinha,realizando matrículas, atendendo telefonemas e até limpando o salão onde as aulas aconteciam. Aos poucos, com a chegada de novos colegas e o apoio de profissionais de outras áreas do campus (como o André, meu marido, que ajudava com questões financeiras, e minha irmã, na área de pessoal), fomos construindo um grupo forte e coeso, os alunos se organizavam para garantir a representatividade da nossa unidade nas comissões da universidade, mas como a unidade não era independente, todas as decisões importantes vinham de São Paulo e muitas vezes não sabíamos o que estava acontecendo. Isso gerava um sentimento de não pertencimento e, algumas vezes, perdíamos boas oportunidades por falta de comunicação.
Aloma - Você sempre menciona o apoio de verdadeiros 'anjos' ao longo da sua trajetória. Poderia citar alguns nomes e como esses colaboradores fizeram a diferença?
Cristina - Claro. A Lúcia – que, além de amiga, compartilhou seu conhecimento comigo e até copiou seu arquivo completo de legislação, para que eu tivesse acesso a todas as informações –, pude contar com o apoio do meu marido, André, que atuava na área financeira da Prefeitura do Campus, e da minha irmã, Claudia, que trabalhava na seção de pessoal. Também recebi suporte de outros funcionários experientes e da equipe administrativa da FEA de São Paulo, mesmo que à distância. Esse suporte foi fundamental para que eu pudesse enfrentar os desafios do dia a dia, especialmente quando estávamos começando do zero."
Aloma - A relação com os alunos sempre foi especial para você. Como era o convívio e a proximidade com eles nesse início?
Cristina - Desde o começo, a relação com os alunos foi muito marcante. Eu me envolvia com eles de forma quase maternal – mas sem perder o companheirismo, pois muitos eram da minha idade ou até mais jovens. Jogávamos vôlei juntos, fazíamos aula de natação, e havia muita troca, até mesmo de caronas. Essa convivência ajudou a criar um ambiente de muita amizade e colaboração, o que sempre me orgulhou e fortaleceu essa minha característica de sempre me preocupar com o corpo discente.
Aloma - Houve também momentos de grande mobilização, como quando a FEA de São Paulo ameaçou fechar a unidade de Ribeirão Preto. Pode nos contar o que aconteceu nesse episódio?
Cristina - Esse foi um dos episódios mais marcantes. Em determinado momento, a FEA de São Paulo manifestou a intenção de acabar com a nossa unidade. Porém, os estudantes se mobilizaram intensamente. Um aluno, o Udo Alexandre Wagner, participou de uma reunião em São Paulo e voltou chamando todos para uma conversa, já que, apesar das dificuldades e da distância, a nossa unidade funcionava bem. Essa mobilização popular foi decisiva e, inclusive, o reitor da USP afirmou que a situação estava resolvida, garantindo nossa continuidade.
Aloma - Com o passar do tempo, a luta por autonomia culminou na emancipação da unidade de Ribeirão Preto, que ocorreu, se não me engano, em 2002. Como foi esse processo de emancipação e quais os desafios e benefícios que ele trouxe?
Cristina - Foi um processo longo e, muitas vezes, doloroso. Estávamos acostumados ao conforto de sermos uma extensão de uma instituição renomada, o que trazia prestígio, mas, ao mesmo tempo, limitava nossa autonomia. Sentíamos que tínhamos energia e ideias para evoluir, mas dependíamos das decisões de São Paulo. Durante a emancipação – que se consolidou formalmente em 2002, quando comemoramos 10 anos de ligação – enfrentamos muitos desafios internos e divergências: alguns defendiam a permanência vinculada, enquanto outros já enxergavam a necessidade de independência. A separação nos permitiu estruturar melhor a escola, aumentar o quadro de funcionários e docentes e desenvolver novos cursos, tanto de graduação quanto de pós-graduação. Foi um processo de amadurecimento conjunto, no qual todos cresceram e aprenderam a caminhar de forma mais autônoma.
Aloma - Em 2010, sob a direção do professor Sigismundo Bialoskorski Neto – o “professor Sig” – a faculdade passou a adotar um planejamento estratégico envolvendo professores, funcionários e alunos. Como esse processo influenciou o surgimento do projeto de educação financeira?
Cristina - Em 2010, o professor Sig assumiu a diretoria e implantou um planejamento estratégico que envolvia reuniões em grupos – onde definíamos missão, visão, valores e outros direcionamentos para a nossa instituição. Durante essas discussões, surgiu em mim a vontade de criar um serviço que levasse o conhecimento adquirido na FEA para a sociedade. Sempre senti a falta de um atendimento semelhante ao que vemos na área da saúde – como os farmacêuticos realizando exames, os psicólogos atendendo a comunidade ou os dentistas trabalhando na prática. Na tradição herdada de São Paulo, a FEA já incentivava a criação de organizações estudantis, então, além do centro acadêmico, e da atléticas, nós tínhamos empresa Junior, Núcleo de empreendedores e o Clube de Mercado Financeiro. Diante disso, imaginei que nossos alunos pudessem, por meio de um projeto extensionista, oferecer consultorias e orientações financeiras à comunidade, especialmente para adolescentes de escolas públicas, ajudando-os a desenvolver uma consciência financeira desde cedo.
Aloma - Como você colocou essa ideia em prática? Qual foi o papel do professor Alexandre Chibebe Nicolella e dos alunos do Clube de Mercado Financeiro nesta iniciativa?
Cristina - Conversei com o professor Alexandre Chibebe Nicolella durante um evento do planejamento estratégico e compartilhei minha ideia de envolver os alunos para levar educação financeira à sociedade. Ele prontamente chamou os meninos do Clube de Mercado Financeiro e, juntos, começamos a reunir ideias em encontros realizados, inclusive, durante o horário de almoço. Foram muitas reuniões para montar a apresentação e estruturar a proposta. Um dos nossos ex-diretores, o professor Rudinei Toneto Junior, que tinha ligação com o pessoal de Altinópolis, facilitou o contato com uma escola daquela região. Assim, mesmo tendo enfrentado barreiras iniciais – como as dificuldades para entrar em escolas públicas – conseguimos abrir as portas e, em 2012, nosso projeto, inicialmente batizado de Pé-de-Meia, foi destaque em uma matéria do Globo Repórter. A partir desse ponto, o projeto se diversificou, dando origem a versões para crianças (Pé-de-Meia Jr.) e para o público empresarial (Pé-de-Meia Executivo), sempre como um trabalho voluntário coordenado por um docente e realizado pelos alunos com meu apoio nos bastidores, na agilização dos recursos e na organização interna.
Aloma - Com o tempo, o projeto se expandiu e passou a alcançar diferentes regiões, chegando até a Campinas, Recife e a espaços inusitados – como, inclusive, a bordo de um navio da Marinha. Como você vivenciou essa expansão e quais foram as mudanças de coordenação e de enfoque que ocorreram ao longo dos anos?
Cristina - Com o empenho de professores, funcionários e dos próprios alunos, nosso projeto ganhou força. Uma empresa do Sul, que prestava serviços relacionados a consignados, procurou-nos para uma parceria que nos permitiu atuar em novos territórios. Assim, começamos a ser levados para Campinas, depois para Recife e, em uma ocasião, até para um navio da Marinha no Rio de Janeiro – embora eu mesma não tenha participado dessa última viagem, o diretor da escola, professor Dante Martinelli, e o professor Nicolela estiveram envolvidos. Cada ação tinha um grau maior de envolvimento institucional, conforme o público e o parceiro. Os alunos desenvolveram, de forma dinâmica, uma metodologia própria, que era passada de uma gestão da organização estudantil para outra, sempre se renovando. Chegamos a atender mais de 10 mil pessoas em nove estados – embora meu sonho fosse atingir todos os estados do Brasil. No processo, o professor Alexandre Nicolella, que inicialmente liderava o projeto, precisou se ausentar para fazer um pós-doutorado. Em seguida, a coordenação passou para o professor Marcelo Augusto Ambrozini, que trouxe uma abordagem mais técnica e teórica – com aparições em rádio e até a publicação de um livro –, e, posteriormente, assumiu o professor Claudio Miranda. O professor Claudio, atuou na proposição de um projeto de lei para inserir a educação financeira nas escolas municipais, atualmente coordena o projeto. Durante a pandemia, os alunos se tornaram ainda mais independentes, e hoje o projeto já não se chama mais Pé-de-Meia, mas CMF, com subdivisões como o CMF Júnior, voltado para crianças, e o CMF Executivo, destinado a adultos e empresas. Inclusive, desenvolvemos também uma vertente de consultoria, o CMF consulta, – onde os alunos acompanham a situação financeira de famílias, ajudando-as a reorganizar suas contas e a planejar melhor seus gastos.
Aloma - E como estão estruturadas as atividades extensionistas na FEA atualmente? Quais são os desafios e as formas de atuação desses projetos junto à sociedade?
Cristina - As atividades extensionistas hoje fazem parte da grade curricular dos cursos, exigindo que os alunos cumpram uma carga de, em média, 300 horas de atividades voltadas para a comunidade. No projeto de educação financeira realizamos eventos abertos à sociedade – como dias de palestra, consultas financeiras e atendimentos familiares – em espaços cedidos pela própria USP, como salas da Faculdade de Medicina no centro da cidade, além de termos realizado atividades em nosso teatro, na ACI e até no Cine Cauim, quando conseguimos um espaço emprestado. Um dos grandes desafios continua sendo a logística: nosso campus é distante, o que dificulta o acesso para muitos estudantes e para a comunidade externa, sobretudo quando se tratam de ações em escolas ou empresas fora do campus. Contudo, todos os envolvidos – alunos, professores e funcionários – trabalham por amor ao que fazem. Muitas dessas iniciativas ainda são realizadas de forma voluntária ou com bolsas modestas (por exemplo, uma bolsa de R$450,00 para monitores), o que torna cada conquista ainda mais especial. Um exemplo disso foi quando fomos convidados pela ADEVIRP – Associação de Deficientes Visuais – para desenvolver material e realizar ações voltadas para pessoas com baixa visão, demonstrando a flexibilidade e o alcance dos nossos projetos extensionistas, mas temos outras opções de atividades extensionistas que serão levadas para a comunidade. Os projetos para 2025 estão sendo formados agora e, em breve, devem ser divulgados.
Aloma - Você acredita que esses projetos contribuem para aproximar a FEARP da sociedade e para o desenvolvimento integral dos alunos?
Cristina - Com certeza! Ao aplicar o conhecimento teórico em situações reais – seja em escolas, empresas ou consultorias para famílias –, os alunos desenvolvem habilidades que vão muito além da sala de aula. Eles aprendem a enfrentar desafios, a elaborar metodologias próprias e, principalmente, a transmitir esse conhecimento a outros. Isso fortalece a missão da universidade de ser um agente transformador, aproximando o saber acadêmico das demandas reais da sociedade. Essa vivência prática é, para mim, uma das maiores conquistas da FEARP.
Aloma - Para encerrar, gostaria de voltar um pouco no tempo. Se você pudesse falar com a Cristina que era criança, que tinha tantos sonhos – lembra que ela queria ser manicure, depois passou por trabalhos em consultórios dentários, limpando a sala, lavando os instrumentos e agendando pacientes – o que diria para ela? Quais eram seus sonhos naquela época e o que aprendeu com as dificuldades?
Cristina - Olha, se eu pudesse conversar com a menina que eu era, eu diria que cada dificuldade, por mais desafiadora que parecesse, era essencial para me moldar e me fortalecer. Tive uma infância muito feliz, repleta de amor e apoio da família – dos meus pais, avós, tios, irmãos e primos. Convivi em um ambiente com muitos animais, como cachorro, galinha, cavalo, coelho etc. e tudo isso tornava aquele ambiente muito aconchegante e seguro. Eu sei que naquela época eu tinha sonhos diversos – queria ser manicure, depois acabei em um consultório dentário, Mas cada experiência, cada desafio, inclusive aqueles momentos em que me sentia discriminada ou insegura, me ensinou a levantar a cabeça, respirar fundo e transformar o negativo em aprendizado. Se eu pudesse voltar, não mudaria nada. Tudo contribuiu para que eu me tornasse quem sou hoje – uma mulher, mãe, esposa, amiga e profissional apaixonada pelo que faz. Mesmo os episódios difíceis – inclusive na vida amorosa – me fortaleceram. Não me arrependo de nada, porque cada passo, cada tropeço, foi parte fundamental da minha trajetória.
Aloma - Cristina, você sempre ressaltou a importância das pessoas na sua vida, tanto na trajetória profissional quanto no âmbito pessoal. Pode nos contar como a sua família, os amigos e o seu parceiro contribuem para que você concilie tudo e siga em frente?
Cristina - Olha, ter pessoas por perto faz toda a diferença. Eu amo o que faço aqui de verdade, e esse amor se estende para a minha família e para as amizades que construí ao longo do tempo. Por exemplo, o meu irmão – junto com meu pai e meu tio, que ainda trabalha na cantina na USP – A filha dele, que acabou de passar na Fuvest(ainda que não tenha entrado, já que está no terceiro ano do ensino médio), mas também foi aprovada na Unesp. Isso mostra como nossa família tem buscado sempre se destacar e crescer. Também não posso deixar de mencionar o meu tio, o Tu, que era sócio do meu pai. Desde o começo, sempre houve muita ajuda mútua – muitas vezes pegávamos caronas com ele. São pessoas inesquecíveis, que fizeram parte de momentos fundamentais na minha vida. Além disso, para conseguir conciliar tudo, contar com pessoas queridas é essencial. A Cacilda, por exemplo, sempre esteve presente na minha vida e na organização da minha casa. – é amiga, é como parte da minha família, e me ajudou a lidar com os desafios do dia a dia. E o André, meu parceiro… Eu sempre falo: 'Eu quero viver a minha vida inteira com você', porque é extremamente compreensivo. Esse apoio dele é muito forte – é como se estivéssemos sempre conectados. Ou seja, ou você tem um parceiro que realmente compartilha essa sintonia e apoia suas paixões, ou fica muito difícil seguir adiante. Houve um período em que eu trabalhava muito – precisava conciliar o trabalho com a dedicação às filhas Débora e Bianca –, e, nesse momento, senti que a família estava perfeita para me sustentar. Mesmo que as emoções às vezes tragam perdas junto com os ganhos, aprendi que o mais importante é cuidar de mim. Se eu me deixasse abater a ponto de morrer de tristeza, com tantas notícias que chegaram ao longo do caminho, não conseguiria seguir. Por isso, em momentos necessários, escolho ficar com o André e com as minhas meninas (agora incluindo minha neta, Ana Clara), mantendo esse equilíbrio tão necessário.
Aloma - Muitos desafios, mas também inúmeras vitórias ao longo desses 40 anos. A trajetória é inspiradora e mostra a força de um trabalho feito com paixão e comprometimento. Obrigada por compartilhar um pouco da sua história conosco, Cris.
Cristina - Eu que agradeço. Foram anos de muita dedicação, altos e baixos, mas também de muitas conquistas e aprendizado. E posso dizer que, mesmo após todas essas décadas, meu amor pela USP – e pelo lago, que me lembra sempre das minhas raízes – continua firme. E isso me dá forças para continuar contribuindo para o crescimento da nossa querida FEARP. Para finalizar, deixo uma reflexão: quando a gente entra em uma instituição de ensino, você tem dois caminhos. Um deles é a depressão, pois todo ano, os alunos que chegam têm 18 anos, e você, com o passar dos anos, vai envelhecendo e isso pode te afetar. O outro caminho, é você se caminho, é você se renovar com essa moçada. Por isso que gosto de realizar projetos envolvendo os alunos, estou sempre próxima deles, acabei de receber a informação que serei homenageada na formatura, isso pra mim mostra que estou no caminho certo, tudo valeu a pena.
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