O Jornal de Bonfim entrevistou Fernanda Carvalho, diretora da Escola Francisco da Cunha Junqueira, em Bonfim Paulista, que compartilhou detalhes de sua trajetória e do processo de revitalização da escola com a colaboração da família Junqueira, herdeira do patrono do colégio.
-----------
Aloma Bueno: Fernanda, conte um pouco sobre sua trajetória profissional e como chegou até Bonfim.
Fernanda Carvalho: Meu nome é Fernanda Carvalho, tenho 50 anos e sou formada em História pela Unesp de Franca, onde também fiz meu mestrado. Além disso, tenho uma formação em Pedagogia, também pela Unesp. Estou na área da educação desde 1998, são mais de 25 anos de experiência. Trabalhei em escolas particulares até 2010 e ingressei na rede estadual em 2006 como professora efetiva. Desde então, construí minha carreira até chegar ao cargo de diretora, que ocupo oficialmente desde 2018.
Aloma Bueno: E quando você veio para a escola Francisco da Cunha Junqueira?
Fernanda Carvalho: Vim para cá após uma trajetória em outra escola da periferia de Ribeirão Preto, onde fiquei por cerca de cinco anos. Era uma escola grande, com quase 1.300 alunos, mas senti que meu ciclo lá já estava completo. Então, pedi remoção para um ambiente mais tranquilo, uma escola menor, mas percebi que precisava de mais desafios e de um lugar onde pudesse fazer a diferença. Foi então que recebi a oportunidade de vir para Bonfim. Muitos me aconselharam a não aceitar, diziam que eu era "louca", mas senti que deveria vir.
Aloma Bueno: Ao assumir a escola, como você encontrou o ambiente?
Fernanda Carvalho: Quando cheguei, fiquei impactada. A escola estava bastante desgastada e até abandonada em certos aspectos, parecia um "portal do tempo" para o final dos anos 70, como eu costumo dizer. Os espaços estavam desorganizados, tudo muito antigo. Senti que teria uma grande missão pela frente, principalmente porque muitos estavam acomodados na situação, o que eu chamo de "zona de acomodação", diferente da zona de conforto. Mas, ao mesmo tempo, vi uma oportunidade de transformação.
Aloma Bueno: E como começou a parceria com a família Junqueira?
Fernanda Carvalho: A família Junqueira, herdeira do patrono da escola, entrou na história de uma maneira especial. Tive a oportunidade de conhecer o Fernando e Juliana Junqueira, e a identificação foi imediata. Juliana é bisneta de Francisco da Cunha Junqueira, e ao visitar a escola, ela viu o potencial do projeto. Ela e Fernando decidiram investir na revitalização da escola para preservar o legado da família.
Aloma Bueno: Qual foi o impacto dessa parceria?
Fernanda Carvalho: Desde junho do ano passado, Juliana já investiu cerca de R$ 1,5 milhão na escola. A obra começou pela entrada, que estava bastante desgastada. Logo fizemos a jardinagem, reformamos calçadas e demos nova pintura. Com o tempo, avançamos para a troca do piso das salas, instalação de cortinas blackout, criação de jardins e áreas de convivência. Juliana me deu liberdade para idealizar o que fosse necessário, e, aos poucos, fomos dando vida a muitos desses planos.
Aloma Bueno: Quem é responsável pela execução do projeto?
Fernanda Carvalho: O projeto está sob a coordenação da Bárbara Nascimento, arquiteta do Grupo Baobá, especializada em paisagismo e arquitetura. Ela foi indicada pelo Marcos Auad, que já conhecia o trabalho dela. Bárbara trouxe ideias incríveis e cuidou de cada detalhe com muita dedicação, o que fez uma diferença enorme no resultado final.
Aloma Bueno: Qual a importância desse projeto de revitalização para a comunidade escolar?
Fernanda Carvalho: Essa revitalização não representa apenas uma reforma física. Ela traz uma nova energia, motivação e valorização da escola como um todo. É um sinal para os alunos e a comunidade de que acreditamos neles e no potencial de transformação do nosso espaço. Para mim, é gratificante ver como pequenas mudanças na estrutura escolar podem impactar positivamente o aprendizado e a autoestima dos estudantes.
Aloma Bueno: Para finalizar, como você define seu trabalho?
Fernanda Carvalho: Meu objetivo é sempre agir com verdade e transparência. Não vejo sentido em esconder ou fingir. Gosto de atuar onde posso transformar, e é isso que fazemos aqui. Onde estiver, quero contribuir, e esse trabalho de revitalização tem sido uma grande realização.
Aloma Bueno: Como está sendo a reorganização das séries nas escolas do estado?
Fernanda Carvalho: A Seduc está com um projeto de reorganização das escolas, especialmente com o programa de ensino integral. Esse programa é visionário, mas demanda adaptações. Não dá para ter os três ciclos numa estrutura integral de 7h às 16h sem uma estrutura física e horários bem separados. Desde junho, já ouvíamos rumores dessa reorganização em Bonfim e algumas regiões de Ribeirão Preto, envolvendo escolas com apenas um ciclo. A partir de 2025, a Escola Cordélia Ragozzo não terá mais o sexto ano, e a Francisco não terá o primeiro ano. Esse processo será gradual.
Aloma Bueno: Isso significa que os alunos atuais não precisam ser transferidos para Ribeirão?
Fernanda Carvalho: Exatamente. As crianças do quinto ano, por exemplo, virão para cá e farão o sexto ano conosco. Na Cordélia, ficarão apenas os anos iniciais, do primeiro ao quinto ano. Em 2025, não recebo mais o primeiro ano, mas o quinto ano de 2024 passa a ser o sexto em 2025, e assim segue. Aos poucos, a troca completa acontecerá até não haver mais transferência de uma escola para outra.
Aloma Bueno: E na Francisco vai até o nono ano?
Fernanda Carvalho: Sim, aqui vamos do sexto ano até o ensino médio completo. Por isso, a reorganização faz sentido.
Aloma Bueno: Quando você chegou aqui, já havia o ensino integral?
Fernanda Carvalho: Havia, mas funcionava em dois períodos: do primeiro ao nono ano de manhã e o ensino médio à tarde. Isso não deu certo porque o horário vespertino dificultava a adaptação dos alunos. Estudando à tarde e entrando na noite, o cansaço afetava a cognição deles.
Aloma Bueno: E a Seduc percebeu isso, certo?
Fernanda Carvalho: Exatamente. Com todas as informações online, percebemos uma queda de até 60% de presença depois das 19h. Isso reforçou a decisão de concentrar o horário.
Aloma Bueno: E como ficam os alunos que trabalham?
Fernanda Carvalho: Sei que alguns precisam ajudar a família, mas temos que incentivá-los a estudar e a sonhar com uma universidade pública. Isso pode fazer diferença no futuro, abrindo portas com bolsas e oportunidades únicas.
Mín. 15° Máx. 29°
Mín. 15° Máx. 28°
Tempo limpoMín. 14° Máx. 30°
Tempo limpo