A recente decisão do governo francês, anunciada pelo Ministério da Agricultura, de destinar 120 milhões de euros da União Europeia para destruir 30 mil hectares de vinhedos, é alarmante. A medida, que visa equilibrar a oferta e a demanda de vinho em meio a uma crise de consumo, levanta questões não apenas econômicas, mas também éticas e ambientais. Destruir vinhedos, uma produção secular e culturalmente rica, como solução para problemas mercadológicos, parece um desperdício de recursos e um erro estratégico de grandes proporções.
Em primeiro lugar, as uvas e o vinho, além de seu valor econômico, são alimentos. Vivemos em um mundo onde a produção de alimentos é uma questão crítica, com milhões de pessoas enfrentando a fome. Não é justificável que, em pleno século XXI, a destruição de uma produção agrícola tão significativa seja vista como uma solução viável. A preservação desse patrimônio deveria ser prioridade, e não sua eliminação. Se o consumo interno de vinho na França diminuiu, a questão deveria ser abordada de forma mais criativa e responsável.
Em vez de destruir vinhedos, o governo francês poderia usar esse montante milionário para incentivar o consumo de vinho em regiões onde a bebida ainda não tem forte penetração comercial. Campanhas de marketing internacional, por exemplo, poderiam explorar novos mercados em países com crescente poder aquisitivo ou onde o vinho ainda não faz parte da cultura alimentar. Expandir as fronteiras do consumo seria uma maneira muito mais inteligente de equilibrar a oferta sem recorrer a medidas destrutivas. Investir em inovação no setor vinícola, como a criação de novos produtos ou vinhos com apelo a diferentes gostos e preferências, também poderia ser uma saída interessante e sustentável.
Além disso, a destruição de vinhedos ignora as oportunidades de diversificação da utilização da uva. A uva não serve apenas para a produção de vinho. O uso das uvas e seus derivados pode ser explorado de inúmeras maneiras: produção de sucos, destilados, vinagre balsâmico, cosméticos e até suplementos alimentares. Existem diversas formas de dar nova vida a uma produção que já foi realizada, sem que seja necessário destruir um único hectare de vinhedo.
A medida também gera uma reflexão sobre o papel dos governantes e suas responsabilidades para com o setor agrícola. Ao invés de promover o desperdício de recursos naturais e financeiros, os líderes deveriam focar em alternativas que preservem a produção e promovam o consumo sustentável. A destruição de uma produção tão rica e tradicional, especialmente por razões puramente mercadológicas, soa como insensatez. Não se pode esquecer o impacto ambiental da remoção de vinhedos, que afeta o solo e a biodiversidade, além de comprometer uma cadeia produtiva que envolve milhões de trabalhadores.
Portanto, a decisão de destruir vinhedos na França é, no mínimo, precipitada. O valor econômico, cultural e ambiental da produção de vinho não deve ser sacrificado para ajustar um mercado em crise. Em vez disso, devemos buscar soluções que preservem o que já foi produzido e incentivem o consumo responsável em novas regiões e mercados. Ao optar pela destruição, a França corre o risco de perder mais do que vinhedos: perde-se a oportunidade de inovar, de educar novos consumidores e de preservar uma tradição que é símbolo de sua identidade.
Mín. 19° Máx. 33°
Mín. 23° Máx. 34°
Tempo limpoMín. 20° Máx. 34°
Tempo limpo