O distrito de Bonfim Paulista em Ribeirão Preto foi criado nos anos 80 do século 19, na época um povoado, que ao longo do tempo ganhou infraestruturas como cemitério, iluminação pública, abastecimento de água, transformando-se num centro urbano para prestação de serviços e comércio para atender à população residente na área rural do entorno, uma mistura de urbano e rural.
Nos anos de 1970, com a mudança do trecho da estrada de ferro que passava pelo local e a abertura da Rodovia Anhanguera, o desenvolvimento do local ficou prejudicado, ganhando novo fôlego somente no início dos anos de 1990, quando teve início sua expansão. A partir dessa expansão, Bonfim Paulista começou a viver o processo de gentrificação, a transformação da paisagem urbana e do perfil social dos bairros, o que encarece o modo de vida e, muitas vezes, expulsa os moradores originários do local ao atrair residentes de maior poder aquisitivo.
Para o professor do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, César Ricardo Simoni Santos, a chegada de investidores ou novos moradores com maior poder aquisitivo faz com que os bairros sofram um processo de desenraizamento, uma vez que os novos residentes têm hábitos de consumo mais caros. Com isso, os preços dos imóveis, aluguéis e comércios locais aumentam, tornando inviável para os antigos residentes manterem antigos hábitos ou até mesmo o lugar de moradia na região.
Segundo Santos, esses moradores se veem obrigados a se mudarem de seus bairros e de hábitos, que se tornam desafiadores. Muitas vezes, eles perdem mais tempo nos transportes, porque passam a morar mais longe dos locais de trabalho, também passam a ter menos acesso a equipamentos de cultura e são pior atendidos pelas redes de internet, água, saneamento e luz. “O aumento no custo de vida é normalmente a causa principal da expulsão do grupo original, ou seja, a medida que o grupo com maior poder de compra vai chegando na área os preços ligados ao custo de vida da região começam a aumentar e acabam se tornando incompatíveis com o padrão de vida do grupo que já ocupava a área”, analisa.
Por outro lado, diz o professor, para o setor privado o processo é vantajoso. As construtoras e imobiliárias acabam se beneficiando com o encarecimento das regiões, tendo em vista que o metro quadrado dos imóveis valoriza. Os comércios locais como bares, restaurantes e lojas de materiais de construção também são beneficiados, pois conseguem aumentar os preços dos produtos devido à nova população ter maior poder aquisitivo.
Essa é a nova realidade do distrito de Bonfim Paulista, que, atualmente, conta com mais de 90 condomínios e viu seu comércio atrair bares e restaurantes sofisticados. Segundo dados do Instituto de Economia da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), de 2013 a 2017 a arrecadação de IPTU no distrito aumentou em 191%, enquanto a de Ribeirão Preto 112%.
No Brasil, as capitais estaduais são as cidades que mais sofrem com o processo de gentrificação. Em São Paulo, por exemplo, o bairro Vila Madalena, que antes era conhecido por ter estabelecimentos e imóveis tradicionais e simplistas, passou pelo processo de valorização imobiliária e revitalização. Atualmente, o bairro da zona oeste é destino popular para turistas e moradores de alta renda. A região de Pinheiros também passa por uma intensa transformação, anteriormente um bairro industrial e comercial, a região se tornou um polo de desenvolvimento imobiliário.
Já no Recife, o Cais José Estelita, uma área abandonada na região central da capital pernambucana, também sofreu com o fenômeno, com a implantação do projeto Novo Recife. Mesmo com protestos durante oito anos, por parte dos moradores do entorno, as ações foram executadas com a demolição de antigos armazéns para a construção de torres residenciais e comerciais. Atualmente as obras estão em andamento e comandadas por construtoras privadas.
Fonte: Jornal da USP
Arthur Santos - Estagiário sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone.
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